Depoimentos foram prestados à Polícia Civil do Distrito Federal.
Um dos golpistas presos durante a invasão do Palácio do Planalto no domingo (8) disse que um integrante do Exército tentou ajudá-lo e os outros invasores a deixar o prédio antes que fossem presos.
No relato, o homem contou ter vindo de Santa Catarina com 48 pessoas para “manifestar contra a corrupção no país e contra a falta de transparência das urnas”.
Ele disse não ter pago pela “excursão”. A viagem, segundo ele, teria sido financiada com doações da população.
Sobre a invasão ao Planalto, afirmou que “um comandante do Exército falava para que os manifestantes fizessem uso de uma saída de emergência, convidando-os a sair, mas na sequência a tropa de choque da PMDF chegou e deu voz de prisão ao declarante e também a outros indivíduos.”
Em nota, o Exército informou que “ainda não foi formalmente notificado e não há, até o momento, qualquer fato que indique a sua veracidade”.
Ele disse também que “tentou evitar que infiltrados danificassem o local ou que machucassem pessoas, tendo inclusive se colocado entre a tropa de choque e os manifestantes”.
Detalhou ainda que, após a chegada da tropa de choque, ele e outros manifestantes se ajoelharam e começaram a cantar o hino nacional e pedir que o Exército os protegesse.
‘Manifestação pacífica’
Outro depoente, um homem vindo de Rondônia, disse que toda a manifestação foi “pacífica”. Apesar da declaração, o ataque às sedes dos Três Poderes e à democracia é sem precedentes na história do Brasil.
Os terroristas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objetos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.
O depoente completou o relato afirmando que, em um determinado momento, “os manifestantes foram convidados a se retirar do local por um policial militar, mas um comandante deu outra ordem e determinou que o grupo que ali se encontrava fosse preso”.
‘Sem financiadores’
Dos 25 depoimentos, apenas um era de uma moradora de Brasília. Os demais presos chegaram à cidade, em sua maioria, na véspera ou no próprio dia das invasões aos prédios públicos da Praça dos Três Poderes.
Quase todos negaram ter pagado pela viagem, mas não informaram quem financiou a viagem. Um deles, de Rondônia, disse acreditar “que foi o agro quem financiou o ônibus”.
Praticamente todos os que chegaram antes dos atos ficaram no acampamento em frente ao quartel-general do Exército, de onde partiram os invasores, e relataram terem se alimentado sem qualquer tipo de custo.
A aglomeração no local foi dissolvida na manhã da segunda-feira (9) por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Nenhum dos presos admitiu ter participado dos atos de vandalismo, negando terem danificado qualquer tipo de patrimônio ou agredido policiais.
Muitos disseram à polícia que entraram no prédio para se proteger de bombas de efeito moral jogadas na rua e que já encontraram o lugar depredado. Outros, que apenas estavam nas redondezas, tirando fotos e filmando os protestos.
Quanto aos motivos para participação no evento, a maioria ecoou temas recorrentemente abordados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, como a confiabilidade das urnas e “a implantação do comunismo”.
Pelo menos três relataram ter participado da manifestação pedindo que o Exército realizasse uma intervenção militar e assumisse o poder no país.
Um dos presos, de Minas Gerais, disse ser integrante da “Scuderie Detetive Le Cocq” do estado, mas não deu mais detalhes. A Scuderie Detetive Le Cocq foi um grupo de extermínio, formado principalmente por policiais, que atuou na década de 60 no Rio de Janeiro.
Poucos policiais e roubo de equipamentos
Outro depoimento foi o de José Eduardo Natale, coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais, que estava trabalhando no Palácio do Planalto no domingo.
Ouvido como testemunha, Natale disse à polícia que, no momento da invasão, “havia por volta de apenas 40 homens na tropa de choque para fazer a contenção de milhares de manifestações” (sic).
O coordenador relatou aos investigadores que, ao visualizar a movimentação em direção ao Planalto, “acionou o pelotão de choque do Exército-BGP que se encontrava de prontidão”.
O pelotão “foi posto em posição e as guarnições da PM que estavam no local recuaram em direção ao Palácio do Planalto”.
Segundo ele, após o rompimento da cerca de contenção a oeste do prédio foi acionado o “Plano Escudo” – “um planejamento que envolve as forças da PMDF, Exército e GSI para impedir invasões nos órgãos governamentais”.
Mesmo assim, os invasores conseguiram romper as barreiras fixas e chegar ao espelho d’água do palácio.
Natale afirmou que os invasores foram contidos temporariamente no espelho d’água, enquanto havia negociação, mas que eles “conseguiram romper os bloqueios e tiveram acesso a marquise do Palácio do Planalto”.
Ele acrescentou que os golpistas “utilizavam de violência e ameaça para conseguir acesso ao Palácio do Planalto, pois atiraram pedras do próprio chão do palácio nas tropas de segurança.”
Já dentro do prédio, disse o coordenador, foram roubados equipamentos da sala do encarregado de segurança das instalações, incluindo cassetetes, sprays de pimenta e 11 tasers, armas não-letais.